A
redação do Gean, aluno do 8º ano, foi selecionada para representar Ouro Preto
nas Olimpíadas da Língua Portuguesa! Ele escreveu um texto baseado nas memórias
de sua avó, Prosperina Lessa Viana, de 84 anos. O texto é cheio de lembranças
contadas de forma terna e doce... Confiram!
Tempo de colheita
As
lembranças da minha infância, aparentemente distantes, me vêm à memória de
forma saudosista. Resolvi contá-las ao meu neto para que ele conheça um pouco
mais da minha história. Sempre morei em um distrito de Minas, com o nome de
Lavras Novas. Naquela época, as casas eram feitas de barro e pau-a-pique, o
chão era de terra macia, que grudava nos pés, não havia energia elétrica,
iluminávamos tudo com lamparina e os banhos eram de bacia, sem nenhum luxo. Eram
poucas moradias, por isso, entre os vizinhos havia uma grande amizade e muita
troca de favores, que hoje não se vê mais.
O
entorno era mato e montanhas. Um lugarzinho feliz, onde todas as manhãs se
ouvia o canto dos pássaros, o balanço das folhas, o som das águas das
cachoeiras, o ranger das janelas, a fumaça do fogão a lenha, o batido do pilão
socando o café e seu aroma forte embriagando todo o ar.
Minha
família era bem simples. Eu e minhas irmãs calçávamos chinelos feitos de corda
de bambu e algumas de nossas roupas e cobertores vinham de doações de um
quartel de soldados dos amigos do meu pai. Apesar dos trabalhos que éramos obrigadas
a fazer (limpar a casa, lavar roupa, torrar café, varrer terreiro e trabalhar
na colheita), nos divertíamos também. Brincávamos de casinha, bonecas
costuradas com palha e sabugo de milho, de esconde-esconde, bilisca... Mas de todas essas
recordações a que não me sai da cabeça é a época que trabalhei na colheita.
Eu
tinha dez anos e trabalhava em uma fazenda de chá, situada nas redondezas do
distrito. Quando se é criança tudo passa a ser diversão, assim, achava gostoso
embrenharmos pelo mato para trabalhar. Saíamos de casa às cinco horas da manhã
para iniciar “a lida” às sete. Embora fosse distante, o caminho era
compensador. Era muita beleza, risos e assuntos diversos. Trabalhei na colheita
por alguns anos, colhia o chá das árvores em uma sacola de pano, colocava em
uma balança para ser pesado, em seguida ele era espalhado por uma esteira para
ficar dias secando. Somente depois de seco ele passava por máquina grande para
ser vendido para lugares distantes, que não me recordo. O nome do chá era “chá
da Índia”.
O
proprietário nos pagava pelo peso do chá, costumávamos receber vinte mirréis (moeda da época) pelo total
colhido. Esse dinheiro eu dava para meu pai comprar comida. Quando comecei a
ficar mais velha, meu trabalho na fazenda era de capina, sofri muito com fortes
geadas, chuva, pés no chão, frio e pouca roupa. O vestuário da época era saia e
blusa de linhagem e, para proteger o rosto, amarrávamos um pano deixando apenas
os olhos à vista.
Nos
finais de semana, ajudava minha mãe nos serviços da casa e ia para a igreja
rezar. As famílias eram muito unidas e católicas.
Dona Prosperina |
Oi Bia, o Gean é um menino de sorte por ter a D. Prosperina como avó! E Lavras Novas segue nos encantando, nos proporcionando momento de muita ternura! Beijos nossos!
ResponderExcluirMuito bom! A riqueza de detalhes nos permite projetar todo o contexto. Parabéns pra vocês!
ResponderExcluirObrigada! Aos poucos, o que se observa é toda a comunidade de Lavras Novas mais sensível à sua história, memórias e patrimônios...
ExcluirMuito bacana...
ResponderExcluirHistória muito gostosa de ler...
Parabéns ao Gean e a Dona Prosperina.
Esse texto por ser o relato de uma época, é uma forma de registro e também de preservação do patrimônio histórico, um patrimônio abstrato.
Parabéns novamente.